Francivaldo Alves

REGISTROS HISTÓRICOS DOS ESPAÇOS RURAIS AMAZÔNICOS: FORMAS DE INSTRUMENTAÇÃO DA PRÁTICA DE PROFESSOR DE HISTÓRIA

Francivaldo Alves Nunes



O Projeto "Registros históricos dos espaços rurais amazônicos, entre ensino e pesquisa: Formas de instrumentação da prática de professor de História", desenvolvido através do Programa Integrado de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - 2014/2015 da Universidade Federal do Pará, se constitui na materialização do saber acadêmico produzido nas discussões presentes no processo formador dos graduandos do Curso de História do Campus Universitário do Tocantins/Cametá, assim como no exercício de diálogo entre os registros históricos e a transformação desses documentos em materiais de aprendizagem para discentes da educação básica.

Ao fazer uso dos conhecimentos obtidos na academia, o projeto possibilitou a estes alunos e alunas estabelecerem diálogos com professores da rede pública e privada de ensino compartilhando estes saberes com as práticas docentes acumuladas pelos anos de experiências em sala de aula, numa relação dialógica de ensino em que pese à aproximação entre a construção do conhecimento formal e a realidade e interesse social.

Outra faceta desta proposta foi permitir o contato de discentes de graduação e da educação básica com documentação histórica, presente no acervo do Arquivo e Museu Histórico de Cametá, que descreve as formas de vida das populações rurais no interior da Amazônica, principalmente os registros que fazem referência a atual região Nordeste do Estado do Pará, município de Cametá e adjacências.

Diante de um quadro social em que se observa um permanente crescimento do saber científico, seria evidente que esse crescimento estivesse sendo acompanhado do aparecimento de especificidades tecnológicas. Sendo assim, na transposição do conhecimento histórico para a educação básica, é de fundamental importância o desenvolvimento de competências ligadas à leitura, análise, contextualização e interpretação das diversas fontes e testemunhos das épocas passadas - e também do presente.

Nesse exercício, devem-se levar em conta os diferentes agentes sociais envolvidos na produção dos testemunhos, as motivações explícitas ou implícitas nessa produção e a especificidade das diferentes linguagens e suportes através dos quais se expressa, como nos alerta Carla Pinsk (2006, p. 18). Estas situações evidenciam a necessidade do uso dessas novas tecnologias na produção de materiais didáticos que facilitem o processo de ensino aprendizagem, conforme aponta os Parâmetros Curriculares (1999) quando destaca os sentido do aprendizado nas Ciências Humanas e suas tecnologias.

Ao propor a construção de ferramentas facilitadoras da prática docente a partir de documentos históricos que desvelam as características dos espaços rurais amazônicos, estamos trabalhando na perspectiva apontada pelas diretrizes curriculares que norteiam a educação básica, ou seja, a produção de materiais didáticos não só devem ser pensados numa perspectiva a associar esses materiais às novas tecnologias da informação, como internet, jogos, vídeos e outras mídias eletrônicas, como ainda em articular essas novas tecnologias ao desenvolvimento de materiais didáticos que dialoguem com a realidade regional das comunidades que ocupam o interior da Amazônia (CORREA; BARRETO, 1999, p. 17).
Ainda na relação universidade e sociedade foi possibilitado aos professores atuantes da rede pública e privada, que exercem suas funções na educação básica, apropriarem-se desses novos conceitos, reelaborando suas práticas docentes e repensando a própria produção dessas ferramentas de trabalho e a configuração dos materiais didáticos, na medida em que estes não se desvinculam das experiências e problemáticas presentes na sociedade (TARDIF, 2002, p. 56).

O projeto que analisamos, de fato, configurou-se enquanto atividade de extensão e ação comunitária. No caso, procurou sustentar-se conceitualmente sobre o propósito de que a construção de um profissional com autonomia, na forma como propõe Jaime Pinsky (2006), proposta principal dos cursos de licenciatura, tem que priorizar uma formação mais ampla, que prepare os formandos para atuarem com criticidade, com capacidade de lidar com a diversidade cultural, de posicionar-se diante das situações sociais e políticas e com condições de desenvolver escolhas conscientes sobre a maneira como vai desenvolver seu trabalho.

Indicativos de resultados

O projeto permitiu à construção de atividades associadas à produção de ferramentas e instrução da prática docente em Historia, através da elaboração de materiais didáticos como cartilhas, textos, banco de imagens, planilhas e softwares, considerando os documentos históricos presentes no acervo do Arquivo e Museu Histórico de Cametá sobre os espaços agrários amazônicos. Envolveu professores do ensino superior, alunos de graduação e professores da educação básica correspondente aos municípios de atuação do Campus Universitário do Tocantins/Cametá, a exemplo de Cametá, Mocajuba, Baião, Limoeiro do Ajurú e Oeiras do Pará.
O desenvolvimento do projeto contribuiu na produção e publicidade de estratégias didáticas e pedagógicas para o ensino de História, estabelecendo uma relação entre o saber acadêmico, a experiência docente e os registros históricos que guardam a memória das populações que contribuíram para formação desta região.
Do ponto de vista de resultados envolveu cerca de 100 pessoas entre alunos de graduação e professores da educação básica e de ensino superior; assegurou a participação de 02 graduandos bolsistas na produção de materiais didáticos compartilhados com professores da rede pública e privada de ensino; envolveu 02 graduando bolsistas no levantamento, catalogação e análise de documentos históricos sobre os espaços rurais e que estão presentes no acervo do Museu e Arquivo Público de Cametá; promoveu duas oficinas de produção de ferramentas didáticas associadas aos documentos históricos; assegurou a participação de 20 professores da educação básica em cada oficina de produção de ferramentas didáticas associadas aos documentos históricos; e promoveu 01 evento científico de socialização dos resultados do projeto e que envolveu alunos e professores da educação básica.

As atividades iniciais concentraram-se nos encontros de formação, com carga horária de 20 horas, nos quais foram apresentadas aos participantes as discussões teóricas e metodológicas que permeiam o ensino e a aprendizagem, os conceitos mais gerais de educação e educando, espaço escolar, materiais didáticos, prática docente e espaços rurais amazônicos.

Posterior a apropriação de conceitos e categorias as atividades do projeto foram direcionadas, em um momento inicial, para a realização das oficinas de preparação de materiais didáticos que dialogassem com os documentos presentes no acervo do Arquivo e Museu Histórico de Cametá. Nestas oficinas, os participantes foram distribuídos por áreas temáticas de estudo. As temáticas das oficinas estavam voltadas para a construção de jogos no ensino de história, uso de documentos na prática docente, construção de textos didáticos e as temáticas imagens e filmes nas aulas de história.
A integração do projeto PROINT entre seus executores se materializou na atuação direta dos bolsistas e professores no planejamento e na realização das atividades propostas para serem desenvolvidas nas oficinas de produção de materiais didáticos. Isso, além de permitir o conhecimento das etapas necessárias que envolvem o planejamento - a exemplo da escolha de conteúdos, seleção de materiais didáticos e aportes teóricos e metodológicos -, permitiu que os alunos bolsistas e professores tomassem ciência das atividades que envolvia um trabalho de produção de materiais didáticos ou transposição didática de conteúdo do ensino superior, e como este trabalho podia ser desenvolvido nas atividades pensadas para as disciplinas.

A integração do projeto com a extensão efetivou-se, ainda, com o contato dos alunos bolsistas com os professores do ensino fundamental e médio, quando da execução de tarefas associadas à experiência docente. No caso, faz-se referência do momento em que atuaram e conviveram nos espaços escolares, estabelecendo relações e auxiliando os alunos da educação básica nas tarefas exigidas com requisitos de avaliação do conhecimento adquirido por esses alunos. Observa-se, também, a relação com a comunidade quando da atuação dos bolsistas nos eventos promovidos pela Faculdade de História e pelo Campus de Cametá.

Os alunos bolsistas puderam atuar mais diretamente no planejamento e na execução de atividades pensadas para a disciplina de História no ensino fundamental e médio, assim como permitiu que os professores organizassem suas atividades, pensando na colaboração que teria desses bolsistas. O envolvimento dos alunos bolsistas garantiu, também, melhores rendimentos na avaliação, o que foi resultado de maior tempo de dedicação para com as atividades acadêmicas, assim como permitiu se apropriar de métodos e estratégias de leitura documental, formas de catalogação e registros históricos que revelavam aspectos dos espaços rurais da região.

Do ponto de vista teórico, não há dúvidas de que os avanços foram bastante significativos, como se observou na apropriação de conceitos quanto ao ensino e aprendizagem, leitura escolar, plano de aula, plano de curso, projeto pedagógico, planejamento de ensino, documento histórico, espaços agrários e outras temáticas conceituais que envolvem a formação docente em História.

No campo dos experimentos, a possibilidade de elaborar propostas de intervenção na sociedade, como oficinas, foi bastante significativo. Acrescentaríamos ainda a possibilidade de atuar na organização e no desenvolvimento de tarefas relacionadas à produção de evento acadêmico, o que permitiu, além de um senso de organização, a capacidade de articular interesses da academia com os da sociedade.

A intervenção didático-científica, se por um momento foi estabelecida no processo de planejamento de atividades para as disciplinas, no planejamento dos eventos e oficinas, por outro foi ainda vivenciada no espaço da sala de aula, com a colaboração dos bolsistas na execução dessas tarefas planejadas para serem desenvolvidas junto aos discentes ou a comunidade. Portanto, tais ações sofreram interferência dos bolsistas não apenas quando da sua elaboração, mas também da sua execução.

Para apontar os pontos positivos deste projeto, destacamos: o envolvimento dos alunos bolsistas com planejamento e execução de tarefas associadas às reuniões de formação e oficinas de produção de materiais didáticos; a possibilidade de estabelecer diálogo entre bolsistas e docentes de graduação, quanto ao planejamento e execução de atividades acadêmicas; a possibilidade de convivência dos bolsistas com as comunidades ribeirinhas da região; e a vivência de experiências docentes nos espaços escolares de ensino básico.

Como questões que limitaram o desenvolvimento de algumas atividades do projeto, apontamos: dificuldades da aquisição de leituras pertinentes à temática do ensino de História, pelo escasso acervo bibliográfico presente na biblioteca do Campus de Cametá; número reduzido de computadores da sala de informática do Campus de Cametá, utilizada para planejamento de atividades pertinentes as atividades do projeto; dificuldade de acesso à informática, o que impossibilitava que documentos fossem baixados da rede mundial de computadores, sendo estes documentos importantes quando da leitura necessária para planejamento de atividades acadêmicas.

Referências citadas

BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 1999.
CORREA, Paulo Sergio de Almeida; BARRETO, Edna Abreu. ‘O Ensino Médio no Estado do Pará segundo as estatísticas oficiais: Os impasses das políticas públicas educacionais e os desafios para o século XXI.’ In: PAPER DO NAEA 122, agosto de 1999, p. 1-40.
PINSKY, Jaime (Org.). O ensino de história e a criação do fato. São Paulo: Contexto, 2006.
PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Trad. Francisco Pereira. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.


Um comentário:

  1. Caro Francivaldo,
    você cita que podemos usar games ou filmes no processo de ensino. Eu gostaria de saber que materiais, no caso específico do espaço rural amazônico, você poderia indicar para tal fim?
    obrigado!
    André Bueno =)

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.