Fagno Silva e Vera Oliveira

PARA QUE SERVE A HISTÓRIA ORAL?
NOTAS SOBRE A HISTÓRIA ORAL E O ENSINO DE HISTÓRIA

Fagno da Silva Soares
Vera Lucia Silva Oliveira



A história é filha do seu tempo./
Cada nova geração deve reescrever
a história à sua própria maneira.
Lucien Febvre & Fernand Braudel, 2009

Introdução

Sabemos, pois, que atualmente a história oral atingiu status quo e consagração entre os historiadores que dedicam suas análises ao tempo presente. A gênese da história oral nas terras tupiniquins data dos anos 70, mas só em meados da década de 90 alargou-se sua utilização enquanto metodologia de pesquisa, onde cada depoente é em certa medida um legítimo guardião de memórias capaz de torná-las coletivas as suas memórias individuais. Como são os griots, antigos contadores de histórias nas comunidades africanas.
Podemos exemplificar a bem sucedida experiência do Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/Fundação Getúlio Vargas CPDOC/FGV criado nos anos 70, inspirado na proposta da Oral History Program da Columbia University de 1948. Arregimentados esforços de estudiosos e pesquisadores das ciências humanas e sociais de diversas partes do Brasil, especialmente do sudeste, puderam criar em 1994 a Associação Brasileira de História Oral - ABHO que realiza sazonalmente encontros regionais e nacionais a cada dois anos. Atualmente, constitui-se em um fórum aglutinador de debates e experiências em história oral realizadas em academias, instituições privadas e comunitárias em todo país.

Concomitantemente a criação da Associação Brasileira de História Oral ABHO cresceu exponencialmente o número de programas, pesquisas e publicações que se utilizam da metodologia da história oral, bem como o considerável aumento de participantes nos eventos realizados pelas instituições. São provas cabais da credibilidade que esta metodologia tem auferido junto a profissionais de diversas áreas ao longo dos anos. Destacamos ainda que, apesar do apreço que temos à história oral, assim como outros estudiosos, reconhecemos que a sua denominação é um tanto equivocada, visto que, em vez de relacionar às fontes, adjetiva a história; (Ferreira & Amado, 2006, p. xii) por outro lado, foi com os historiadores que ele constituiu uma rede de profissionais, que imbuídos do devir historiográfico, perfazem um todo cada vez mais elaborado de sua metodologia.
Embora consagrada, os praticantes da história oral costumeiramente são convocados a ratificar seus aspectos metodológicos relacionados à memória. Quanto a esta relação, os historiadores, assinalaram uma constatação na confraria da ABHO, sublinhando que, "[...] mas isso faz da história oral uma fonte não fidedigna para o pesquisador?" (Idem) Deste modo, o "[...] o principal alvo dessas críticas era a memória não ser confiável como fonte histórica, porque era distorcida pela deterioração física e pela nostalgia" (Thompson; Frisch; Hamilton. 2006, p. 66) do entrevistado que possa fazê-lo idealizar o passado. Porém, essa 'não confiabilidade da memória' pode ser encarada como um recurso e não como um problema. Destarte a história oral e o estudo da memória tem demonstrado força teórica na superação destas e de outras críticas.

Afinal, para que serve a história oral?

Sabe-se que o uso do testemunho oral é tão antigo quanto à história de Heródoto, mas foi a partir da Segunda Guerra Mundial que a história oral se desenvolveu, tendo como lócus fundador a Universidade de Columbia, Nova York, a primeira a formalizar um projeto de história oral, enquanto metodologia acadêmica. Sobre a sua gênese, o pesquisador José Carlos Sebe Bon Meihy assevera que "ela combinou três funções complementares: registrar relatos, divulgar experiências relevantes e estabelecer vínculos com o imediato urbano, promovendo assim um incentivo à história local e imediata". (2005, p.22) Deste modo, a história oral nasce na academia com indeléveis dileções com a micro-história, assim como a história do tempo presente com a função quase que salvacionista das memórias dos ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial. Assim, os elementos motivadores para sua gênese que foram à necessidade do registro das experiências dos sobreviventes deste fatídico momento da história, através dos relatos orais somados ao uso do gravador analógico.

Para além do que afirma Verena que "o trabalho com a história oral consiste na gravação de entrevistas de caráter histórico e documental com atores e/ou testemunhas de acontecimentos, conjunturas, movimentos instituições e modos de vida da história contemporânea", (Alberti, 2004, p. 77) que de outro modo, não seria possível. Assim sendo, a história oral "[...] permite o registro de testemunhos e o acesso a histórias dentro da história", (Alberti, 2005, p. 155) atestando sua riqueza e alcance metodológico, ao que parece está em franco crescimento.

Outro aspecto bem marcante da oralidade é a sobrecarga de subjetividade que, em tese, deve ser considerada uma potencialidade, pois somos sujeitos e objetos no âmbito da pesquisa. Tal como Durval para quem "[...] se o sujeito produz o objeto, este também define o sujeito" (Albuquerque, 2007, p. 32) defendemos que na história oral somos sujeitos ao questionar, problematizar objetos, ao ouvir, registrar e ser observado, questionado e interpretado pelo outro.

Visto nestes termos, reverberamos a assertiva de uma das maiores autoridades no assunto, Paul Thompson aponta que as fontes orais não devem ser utilizadas como tapa-buracos ou mero complemento aos documentos escritos, lançando o questionamento,

Quão fidedigna é a evidência da história oral? [...] A pergunta propõe uma falsa escolha. Se as fontes orais podem de fato transmitir informação 'fidedigna', tratá-las simplesmente 'como um documento a mais' é ignorar o valor extraordinário que possuem como testemunho subjetivo, falado. (Thompson, 1992, p. 138)

Assim, na perspectiva de Paul Thompson a utilização das fontes orais enriquece sobremaneira a história, visto que tomam como objeto de estudo as narrativas orais dos sujeitos históricos que além de testemunharem a história, viveram-na. Existem, entretanto, pesquisadores que ainda acreditam que os documentos escritos são "mais confiáveis" do que as fontes orais. Vale ressaltar que, corriqueiramente, tais documentos não passam de transmissões de relatos orais escritos por homens, sendo, desse modo, susceptível às mesmas 'falhas'. Seria pretensioso de nossa parte, pensarmos o documento como verdade e a história seu estatuto.
Mesmo os documentos tidos como oficiais pelos positivistas trazem consigo a intencionalidade de seus produtores. Logo, podemos presumir que os documentos escritos legam marcas dos que o produzem e têm os mesmos problemas que as fontes orais, podendo estas serem tão fidedignas quanto qualquer documento escrito. Ainda nestes termos, fazemos uso da reflexão do sociólogo austríaco Michael Pollak para quem a memória

É socialmente construída, é óbvio que toda documentação também o é [...] não há diferença fundamental entre fonte escrita e fonte oral [...] A crítica da fonte, tal como todo historiador aprende a fazer, deve [...] ser aplicada a fontes de tudo quanto é tipo. Desse ponto de vista, a fonte oral é exatamente comparável à fonte escrita. Nem a fonte escrita pode ser tomada tal e qual ela se apresenta [...] apesar de terem uma forma sui generis.  (Pollak, 1992, p. 207-208).

De qualquer modo, todo documento é passível de críticas. Parafraseando obtusamente o historiador Durval Muniz (2007, p. 232), os textos escritos chegam até nós, como rins sem néfrons, corpos sem órgãos, falas sem sentimentos, dores sem gritos e voz sem emoções. Logo, um documento nada mais é do que a ponta de um imenso iceberg, onde o mais importante está na parte submersa, por isso somos forçados a mergulhar por entre grutas e blocos de gelo flutuantes que se desprendem do iceberg para entendermos as origens e o contexto do fabrico de um documento.

Ao discutir os desafios da história oral, historiadores da Associação Brasileira de História Oral assinalaram uma das maiores críticas à memória "[...] é que a memória pode ser distorcida pela deterioração física do entrevistado e pela possível nostalgia que possa fazer o entrevistado idealizar o passado [...]"(ABHO, 2006). Assim para o historiador oralista ou professor de história "não confiabilidade da memória pode ser encarada como um recurso" (ABHO, 2006), e não como um problema científico.

Existem, entretanto, pesquisadores que ainda acreditam que os documentos escritos são 'mais confiáveis' do que as fontes orais. Vale ressaltar que, corriqueiramente, tais documentos não passam de transmissões de relatos orais escritos por homens, sendo, desse modo, susceptível às mesmas 'falhas'. Segundo o historiógrafo inglês Edward Carr

Nenhum documento pode nos dizer mais do que aquilo que o autor pensava - o que ele pensava que havia acontecido, queria que os outros pensassem que ele pensava, ou mesmo apenas o que ele próprio pensava pensar. Nada disso significa alguma coisa, até que o historiador trabalhe sobre esse material e decifre-o. (HUGHES, 2002, pp.43-44).

Logo, os documentos escritos têm os mesmos problemas que as fontes orais, podendo estas ser tão fidedignas quanto qualquer documento escrito. De acordo com o sociólogo austríaco Michael Pollak, (1992, p) "se a memória é socialmente construída, é obvio que toda documentação também o é [...]". É sabido que, tal como a documentação escrita tem que seus lapsos, falseamentos, polifonias e entrelinhas, a oralidade também possui imprecisões. Porém a história oral tem ocupado a maior parte da prática historiográfica até os dias de hoje. Rompendo com a ditadura positivista do documento, qualquer texto pode ser considerado uma fonte para o historiador do século XXI, como afirma o historiador Barros, (2004, p. 134) ao dizer que  "[...] o diário de uma jovem desconhecida, uma obra de alta literatura ou da literatura de cordel, as atas de reunião de clube, as notícias de jornal, as propagandas de uma revista, as letras de música, ou até mesmo uma simples receita de bolo [...]" Não há mais limites de fontes para os novos historiadores, pois os diferentes documentos os levam diretamente ao contato com o problema a ser investigado.

Sobre história oral, o pesquisador José Carlos Sebe Bom Meihy (2005, p. 29) afirma ser uma "[...] prática de apreensão de narrativas [...]" que objetiva "[...] promover analises de processos sociais do presente e facilitar o conhecimento do meio imediato". A história oral está para o tempo presente assim como o marxismo está para os excluídos dando voz aos silenciados e evidenciando os esquecidos da história. Para Etienne François (FERREIRA & AMADO, 2001, p. 4) a história oral privilegia o cotidiano e a vida privada valorizando a historicidade local e regional da "[...] história vista de baixo [...]", ou seja, dos marginalizados "[...] numa perspectiva decididamente micro-histórica". Logo, história oral e micro-história são simbióticas.

Considerações finais

Diante do desafio proposto, cabe a nós historiadores a difícil tarefa de definir a utilidade da história e seu ensino. Perguntas não necessariamente geram respostas, trazem à tona novas indagações. Pesquisar história para além da história positivista é, sobretudo, voltar-se para temas como loucura, cidadania, sexualidade, alimentação, moda, biografia, meio ambiente, corpo, cotidiano, enfermidades, gênero, crianças, cinema, festas, direitos humanos e neste caso, a escravização contemporânea. Clio redimensionou seu olhar para uma outra história, uma zapeada nos estudos históricos recentes, catapultando-os, que no dizer de Júlio Aróstegui  um "grande giro ou guinada dos anos 70 interrompeu uma certa trajetória da historiografia, mas propiciou o nascimento de muitas direções novas" (Aróstegui, 2006 p. 08) uma renovação da produção historiográfica sem precedentes.

Com efeito, à medida que, adentra-se ao universo da pesquisa, mais complexa torna-se a tarefa do historiador e do professor de história, no mais, resta-nos tal como propõe o historiador Vainfas (1997, p. 449), "[...] percorrer os caminhos e descaminhos da história [...]". Afinal, a arte de historiar nunca foi tão complexa como hoje, devendo ser sempre revisitada por outros estudiosos.

Referências

ALBERTI, Verena. Ouvir contar: textos em história oral. Rio de Janeiro; FGV, 2004, p.77.
________. Histórias dentro da história. In: Carla Bassanezi Pinsky. [Org.]. Fontes históricas. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2005, v. 1, p. 155.
ARÓSTEGUI, Júlio. A pesquisa histórica - teoria e método. Bauru: EDUSC, 2006, p. 208.
BARROS, José D'Assunção. O campo da história. especialidades e abordagens. Petrópolis: Vozes, 2004.
FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. (coords.) Usos & Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: FGV, 1996.
FEBVRE, Lucien. O problema da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 30.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom.  Manual de história oral. 5. ed. São Paulo: Loyola, 2005.
________.HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007.
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5, 1992, pp. 207-208.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Trad. Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992, p. 138.

VAINFAS, Ronaldo. Caminhos e descaminhos da história. In: Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. CARDOSO, Ciro Flamarion/VAINFAS, Ronaldo (Org.). Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.

23 comentários:

  1. Bom dia! ao trabalhar com fontes orais sempre temos a preocupação quanto a subjetividade, como também nas narrativas do proóprio entrevistas, pois o mesmo pode narrar e interpretar sua proória narração! Como deve ser a posição do entrevistador? E qual fonte teorica que possibilitar dar um embasamento a está questão?
    Rogério Silva de Mesquita

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    1. Caro Rogério trago uma bibliografia comentada que fiz junto com a historiadora Marta Gouveia de Oliveira Rovai para aqueles que desejam conhecer e aprofundar acerca da história oral enquanto metodologia da pesquisa histórica.

      O que é história oral? Diversos pesquisadores apresentam concepções diferenciadas sobre a história oral, podendo ser considerada uma metodologia, uma técnica ou uma disciplina. Para os que a concebem como metodologia, ela implicaria numa série de procedimentos que vão desde a forma de elaboração das entrevistas, à condução e à transcrição delas, o que teria efeitos sobre a pesquisa historiográfica. Entendê-la como técnica acaba por restringi-la à preocupação com o aparato tecnológico na execução da entrevista e na criação de acervos de conservação, sem a preocupação mais profunda de seus efeitos sobre a pesquisa e o entendimento da própria relação entre história e memória. A ideia de disciplina parte do pressuposto de que a história oral não é apenas uma técnica, mas um conjunto de procedimentos ligados a uma teoria, que articularia conceitos, problemas e soluções bem singulares, que não estariam limitados ao campo da história somente, mas levaria em conta a interdisciplinaridade.Ela envolveria a construção de projetos de pesquisa cuja reflexão abarcaria os procedimentos e suas implicações nos estudos sobre a chamada história do tempo presente, a memória e a identidade. Nesse sentido, algumas questões seriam essenciais ao historiador ou também ao chamado oralista: onde, quando, o que, de que, para quem e para que desenvolver a história oral? Na definição do historiador José Carlos Sebe Bom Meihy (2006), trata-se de um conjunto de procedimentos de caráter interdisciplinar que se iniciaria com a elaboração de um projeto e que se concretizaria com o estabelecimento de um grupo de pessoas a serem entrevistadas por meio dos meios eletrônicos (gravadores, filmadoras e, cada vez mais, a internet) e do contato humano direto e dialógico. Um projeto de história oral, ainda, deve prever o planejamento da condução das gravações, o estabelecimento da passagem do oral para o escrito (códigos diferentes), a conferência e autorização pelo entrevistado, os cuidados éticos com a publicização das narrativas e a devolução, de uma forma negociada, do produto à comunidade. Você se interessa pelo tema? Confira, abaixo, a bibliografia comentada que preparamos para quem deseja conhecer mais o campo.

      1. FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. [orgs.] Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

      Este livro, organizado por Ferreira e Amado, traz textos de diferentes pesquisadores, que abordam temas e problemas – teóricos e metodológicos - importantes para a realização de trabalhos que envolvam a história oral. Conceitos como memória e tradição oral, biografia e tempo presente são desenvolvidos, entrelaçados à discussão sobre os usos de narrativas orais (sua contribuição e suas dificuldades). Para finalizar, a obra também trata de documentos e da criação de arquivos de história oral.

      2. ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2005.

      A obra de Verena Alberti tem a preocupação em tratar dos procedimentos quanto à pesquisa e às entrevistas de história oral. O livro apresenta e discute as etapas de preparo, realização e tratamento das entrevistas. Além disso, a autora também discute a importância das novas tecnologias e as mudanças que elas trazem na concepção de documento, assim como no tratamento e na criação de acervos voltados à preservação e publicização das fontes de história oral.

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  2. Por mais que se tenha avançado, a história oral, ainda hoje, suscita alguma polémica entre os historiadores de ofício. Sobre ela persiste uma certa desconfiança. Muitos só conseguem perceber e aceitar o seu uso na falta de outro tipo de documentação, quando seria tomada como recurso extremo”. Você acredita que esta “desconfiança” está relacionada principalmente a quais aspectos da nossa área?

    Elton Cardoso

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    1. Caríssimo Elton,
      Desde a criação da Associação Brasileira de História Oral ABHO em 1994, o número de pesquisas no Brasil cresceu exponencialmente o que dado a história um espaço crescente na produção historiográfica acadêmica. Creio ser esta 'desconfiança positivista' da validade da fonte oral, o que em certa medida, trata-se de um debate a caminho da superração, visto que assim como pensou Le Goff e Pierre Nora na década de 70 é preciso novos objetos, novas temas e novas abordagens o que invariavelmente rompe com os paradigmas estruturalistas.

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  3. Olá,

    Pergunto aos autores do texto de que maneira a história oral pode ser utilizada no ensino de história, como sugere o título apresentado. Ou seja, que tipo de trabalhos os professores de História podem desenvolver com seus alunos quando recorrem à História Oral?

    Obrigada,
    Carmem Kummer Liblik

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    1. Caríssima Carmem,
      Para o aprofundamento desta questão sugiro o livro dos historiadores Ricardo Santhiago e Valéria Barbosa de Magalhães com título História oral na sala de aula. Traz um painel de possibilidades aos professores da educação básica com sugestões de ferramentas diversas para a utilização da história oral enquanto método e recurso pedagógico. Trata-se de um campo em franco desenvolvimento com fundamentação teórico-conceituais bem definidos.Para tanto, preocupar-se com o resgate e preservação da memória é no mínimo salutar em tempos que parece sucumbi-la, torna-se justificável o afã dos historiadores, em reconstruir, problematizar e
      preservar histórias e memórias. O historiador medievalista LE GOFF (1994, p.47) afirma que a
      função do historiador com a “[...] memória é para libertação [...]”. Portanto, o historiador de
      abordagem oral desempenha na sociedade um papel peculiar de “[...] impedir que a história seja
      somente história” (Idem, 1994.p.47).


      LE GOFF, Jacques. Memória. História e Memória. 3. ed. Campinas: UNICAMP, 1994.

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  4. Quando você diz que a "oralidade também possui imprecisões", fiquei me perguntando se é objetivo da História a precisão. Visto que não é esse o caso, e que você diz que "qualquer texto pode ser considerado uma fonte para o historiador do século XXI", o que dará característica de documento a esses relatos?
    Karina Rodrigues Nogueira de Souza

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  5. Conforme Michael Pollak, "a memória é socialmente construída". Desta maneira, gostaria de ter mais claro a diferença entre memória coletiva e memória histórica?

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  6. Conforme Michael Pollak, "a memória é socialmente construída". Desta maneira, gostaria de ter mais claro a diferença entre memória coletiva e memória histórica?

    Taciani de Oliveira

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  7. Luciano Pereira de Souza Junior8 de março de 2016 às 08:48

    Boa tarde, professores!

    Estou cursando a disciplina de História Oral em minha universidade, e existe um amplo debate acerca da História Oral ser uma metodologia ou uma história a parte, conforme as leituras de FRANÇOIS.
    Gostaria de saber se vocês realizaram este debate antes de realizar suas pesquisas.

    Luciano Pereira de Souza Junior
    Acadêmico de História da UFMS

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  8. Boa tarde a todos! No texto aparece que a história oral emergiu a partir da II guerra mundial, mas isso não seria no que diz respeito à metodologia e não necessariamente a sua utilização no meio acadêmico?

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  9. Compartilho com os autores a importância da História Oral para o registro de memórias é uma ótima ferramenta de pesquisa. Parabéns pelo repasse desse significado.
    Diante de tanta indecisão e falta de encorajamento para pesquisa voltada à História Oral, qual seria na opinião de vocês o receio dos novos historiadores na aplicação de tal metodologia.

    Jacinta Kupczi

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  10. Boa tarde a todos!
    Parabéns pelo texto e devo lhe dizer que na oportunidade da pesquisa no período de mestrado, com enfase na coleta de dados documental, encontro sujeitos e os entrevistei, mas me foi impossível, pela inexperiência não comparar o documento ao relato. Ainda assim foi visível o enriquecimento dos dados coletados, sem abordar a complementação tanto da história da educação com os documentos. Qual sua compreensão referente a este apontamento.
    Grata
    Adriane

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  11. Apresentar no corpo do trabalho a nossa impressão a respeito da condição fisíca e/ou emocional daquele ou daquela que nos concede seu relato como fonte pode ser uma técnica interessante para dar maior fidediguinidade a pesquisa?

    IVONE GOMES

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  12. Bom dia, muito importante esse tema de História Oral, assim nos auxilia nessas analises da sociedade. Existe algum tipo de roteiro que possamos seguir para uma entrevista? (Viviane Regina Árcega de Souza)

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    1. Caríssima Viviane, trago trechos de uma bibliografia comentada que fiz junto com a historiadora Marta Gouveia de Oliveira Rovai para aqueles que desejam conhecer e aprofundar acerca da história oral enquanto metodologia da pesquisa histórica.
      3. MEIHY, José Carlos Sebe Bom; SALGADO RIBEIRO, Suzana L. Guia prático de história oral: para empresas, universidades, comunidades, famílias. São Paulo: Contexto, 2011.

      A obra foi pensada no sentido de se expandir o trabalho com história oral para fora da Academia. É um guia que atualiza conceitos já discutidos em outros livros de Meihy, e apresenta procedimentos que possam ser usados na elaboração de projetos a serem desenvolvidos por empresas, entidades e comunidades. Para isso, indica caminhos operacionais e exemplos para os interessados em realizar esse tipo de trabalho. Acredita-se, nesse sentido, que a história oral não seja reduto dos acadêmicos. Isso não significa, no entanto, abandonar o rigor científico na condução das entrevistas, na análise e na fundamentação teórica.

      4. MEIHY, José Carlos Sebe Bom; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007.

      A obra é uma introdução a todos aqueles que se interessam em enveredar pelos caminhos da historia oral. Na primeira parte, Meihy e Holanda apresentam os principais conceitos teóricos que a envolvem, como memória, identidade e comunidade; colaboração, documento, conferência e devolução; além dos diferentes gêneros de história oral: de vida, temática e tradição oral. Na segunda parte, discutem os procedimentos em um projeto de história oral: escolha da comunidade de destino, da colônia e das redes; usos dos meios eletrônicos; condução das entrevistas, transcrição, textualização e transcriação; análise das entrevistas.

      5. FERREIRA, Marieta de Moraes; FERNANDES, Tania Mara; ALBERTI, Verena. História Oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: FioCruz; FGV, 2000.

      A obra apresenta um panorama amplo e importante sobre a história oral em diferentes continentes. Vários pesquisadores tratam da história oral, não apenas como metodologia, mas como importante instrumento de organização, mobilização social, elaboração de memórias e identidades. Questões como a relevância da história oral no contexto da América Latina ou os silenciamentos e distorções de lembranças devido aos traumas do nazismo, na Alemanha, permitem que se pense o tratamento às fontes orais com especial atenção e cuidado, reconsiderando leituras mais restritas e positivistas sobre elas e levando em conta atributos próprios delas, como as subjetividades.

      6. SANTHIAGO, Ricardo; Magalhães, Valéria B. Depois da Utopia: a história oral em seu tempo. São Paulo: Letra e Voz, 2014.

      A obra é resultado do IX Encontro Regional Sudeste de História Oral: Diversidade e Diálogo, realizado em 2011, na Universidade de São Paulo. Escrito por diferentes pesquisadores, procura realizar uma reflexão sobre a história oral, a partir de sua consolidação na Academia e dos novos desafios que se apresentam no tempo presente. Nesse sentido, algumas questões fundamentais são abordadas ao longo do livro: velhos e novos usos da memória; novas discussão sobre a metodologia e sua utilização; a erudição; a relação com diferentes suportes teóricos e tecnológicos ; e, finalmente, seu diálogo com novos campos de conhecimento.

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  13. Ivanize Santana Sousa Nascimento10 de março de 2016 às 18:14

    Olá,professor Fagno! Boa temática você trouxe à tona.O que seria de todos nós sem a memória,a oralidade também? As civilizações que ainda fazem muito uso da oralidade,não são dignas de crédito? Por outro lado,e nesse momento de crises x crises,é confiável tudo o que se diz e o que se publica?Ou se deve refletir e fazer análise?

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  14. Caros Colegas!
    Assim como a colega que manifesta sua dúvida acima, também me questionei sobre sua "imprecisão". Não seria a História Oral capaz de considerar os silêncios, os esquecimentos, as "imprecisões" como importantes composições a serem analisadas e compreendidas na narrativa?
    Fabiana Regina da Silva

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  15. Sou estudante do curso de História e estou iniciando meu projeto de pesquisa, possivelmente trabalharei com história oral,por isso meu interesse pelo tema do texto.Embora a história oral já tenha alcançado um grande espaço na historiografia ainda sinto-me com um certo medo em trabalhar com fontes orais.Que caminhos devo seguir para desenvolver uma entrevista que possa trazer bons resultados para o desenvolvimento da minha pesquisa?

    Ivanusa de Assis Cerqueira

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  16. Como você ensinaria sobre o conceito de história oral para crianças do ensino fundamental menor, e quais métodos usaria para que essas crianças compreendessem a importância da mesma como fonte histórica?
    Ass: Jonathan Evangelista de Araujo

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  17. Quais os maiores desafios para a história oral na atualidade? Qual o espaço que tem esse tipo de pesquisa na historiografia?
    JOSÉ RIBEIRO COSTA

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  18. Márcia Lúcia da Cruz11 de março de 2016 às 15:56

    Fagno / Vera Lucia,
    Muito interessante o tema para que serve a história oral – notas sobre a história oral e o ensino de história. Quando instigamos nossos alunos a pesquisar sobre seus antepassados e alguns gostam muito por ser uma realidade próxima a eles, muitas vezes não estamos se utilizando através do resgate das histórias orais do resgate também da história local e assim mantendo viva a memória de uma comunidade?
    Atenciosamente,
    Márcia Lúcia da Cruz.

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