MEIOS DE
COMUNICAÇÃO NAS AULAS DE HISTÓRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL EM AQUIDAUANA/MS: NOTAS
DE PESQUISA
Edvaldo
Correa Sotana
A presente comunicação objetiva apresentar dados
iniciais da pesquisa sobre a utilização dos meios de comunicação como fonte e/ou
objeto nas aulas de história, do Ensino Fundamental, das escolas públicas da
cidade de Aquidauana, interior de Mato Grosso do Sul. Para tanto, até o momento
dividimos as ações em duas etapas complementares: 1) pesquisa bibliográfica; 2)
coleta de dados por meio de questionário estruturado.
Partimos de uma constatação. Apesar do papel da
mídia na sociedade contemporânea, ainda são poucos os estudos sobre a
utilização dos jornais, das revistas, das emissoras de rádio e televisão nas
aulas de história nas escolas públicas de educação básica.
Dentre os pesquisadores, Zanchetta Junior (2011,
p. 22) ressaltou a importância assumida pelos órgãos midiáticos na “arena
política nacional”, indicando como decisiva a sua influencia na “formação do
imaginário social e político sobre a escola, talvez em grau maior do que a
influência dos próprios agentes escolares no mesmo processo.” Assim, como
lembrou Zanchetta Junior (2011), com exceção dos jornais, os meios de
comunicação são praticamente “ignorados” nas escolas e nos documentos que orientam
o trabalho do professor, em que pese a existência de textos sobre trabalho
docente com TV e rádio.
De certo modo, os trabalhos de Faria (1996),
Faria & Zanchetta Junior (2005), Assumpção (1999), Belloni (2003), Napolitano
(2005), Busetto (2005, 2006, 2007 e 2008),
Fischer (2001)
e Zanchetta Junior (2005, 2009, 2010 e 2011) apresentam discussões
teórico-metodológicas, sugestões de atividades didático-pedagógicas e podem
inspirar atividades com diferentes meios de comunicação no ensino. Entretanto,
pouco sabemos acerca da sua utilização no ensino de história nas escolas
públicas de ensino fundamental situados no interior do Brasil.
Além da pesquisa bibliográfica, procuramos
levantar dados referentes a utilização dos meios de comunicação no ensino de
história no conjunto de escolas públicas, de ensino fundamental, de Aquidauana.
O levantamento consistiu em contato direto com as pessoas “cujo comportamento
se deseja conhecer”. Desse modo, solicitamos “informações a um grupo significativo
de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise
quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados”.
(GIL, 2002, p.50).
Para a coleta de dados, utilizamos um
questionário estruturado com dez questões, divididas entre fechadas e abertas.
Com as questões, objetivamos conhecer a formação dos docentes, identificar o
local de trabalho e o tempo que o mesmo está vinculado a este local, a jornada
de trabalho semanal, a existência de material instrucional para orientação das
atividades, bem como de material didático referente a utilização dos meios de
comunicação no ensino. Também perguntamos sobre as possibilidades e
dificuldades para se trabalhar com os meios de comunicação em sala de aula. Por
fim, indagamos sobre o papel dos meios de comunicação em nossa sociedade.
Para a aplicação do questionário, contamos com a
atuação de Emerson Bandeira Bastos, discente do curso de História, Campus de
Aquidauana, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Como bolsista de
Iniciação Científica entre agosto de 2014 e julho de 2015, Bastos entrou em
contato com dez escolas municipais e seis escolas estaduais. Em função da
distância, não aplicou o questionário em três escolas municipais, localizadas
fora perímetro urbano. Nas escolas, entrou em contato com vinte e três
professores. No entanto, nem todos responderam o questionário. Por pelo menos
três ocasiões, estabeleceu contato com cada um para solicitar a colaboração no
trabalho. Argumentos como falta de tempo, esqueceram de responder e entregariam
em outro momento foram às justificativas utilizadas para não entregar o
material no prazo. Ao todo, dez professores responderam o questionário. De
posse do material, o bolsista entregou-o ao orientador para prosseguimento das
atividades.
Com relação à formação, oito docentes concluíram
o curso de graduação em história, sendo que um concluiu em 2009 e outro ainda
não terminou a sua graduação, mas, mesmo assim, ministra aulas na educação
básica. Dentre os nove formados, oito são graduados pela UFMS e um pela
UNIDERP. Nenhuma participante indicou ter cursado pós-graduação. Outro dado, no
entanto, chamou nossa atenção. Dentre os dez professores que ministram a
disciplina de história, dois são formados em geografia, um em pedagogia e outro
não identificou a sua graduação. Apesar do Campus de Aquidauana, da UFMS, ter
um curso de história formando professores há mais de três décadas, podemos
ensaiar uma explicação para o fenômeno apontado. Aqueles que não são graduados
em história trabalham em escolas situadas nas aldeias ou na periferia da
cidade, ministrando, ao mesmo tempo, aulas nas disciplinas de geografia e
artes, completando, assim, sua carga horária com poucas aulas da disciplina de
história.
Por sua vez, a carga horária de trabalho semanal
na escola pode ser observada na tabela a seguir:
Tabela 1 -
Carga Horária de Trabalho Semanal
|
|||||
Carga horária semanal
|
32 horas
|
14 horas
|
08 horas
|
04 horas
|
02 horas
|
Número de Docentes
|
06
|
01
|
01
|
01
|
01
|
Com relação ao tempo de serviço na escola, um
docente trabalha mais de vinte anos no estabelecimento de ensino, cinco
trabalham entre dez e vinte anos, três estão na escola entre um e três anos e
apenas um leciona menos que um ano no estabelecimento escolar.
Independente do tempo de formação, da graduação
de origem ou do tempo de trabalho na escola, os dez professores indicaram
utilizar os meios de comunicação no ensino de história. Nas respostas, cada
professor listou mais que um meio como sendo utilizado. Assim, temos as
ocorrências na tabela abaixo:
Tabela 2 – Meio de Comunicação
Utilizado
|
|
Computador
|
05
|
Projetor Multimídia
|
05
|
Televisão
|
04
|
Jornal
|
04
|
Sala de Tecnologia
|
03
|
Internet
|
02
|
Revista
|
02
|
Tablet
|
01
|
Vídeo
|
01
|
Rádio
|
01
|
Alguns aspectos chamam a atenção do observador.
Dentre eles, destacamos a confusão entre meio de comunicação e equipamento
(Tablet) ou espaço de trabalho (ex.: sala de tecnologia).
A questão seguinte visava indagar sobre a
existência de material instrucional que oriente o trabalho docente na
realização de atividades com meios de comunicação. Seis responderam que existe
material enquanto quatro docentes indicaram que não. Dentre os professores que
responderam positivamente, dois apontaram a existência de um espaço quando
perguntado sobre o material (sala de tecnologia), um respondeu apresentando uma
atividade de formação/ capacitação (oficina em evento acadêmico), um a internet
e outros dois a existência de livros didáticos.
A pergunta seguinte versava sobre a existência
de material didático acerca dos meios de comunicação para os alunos.
Gráfico 01 – Material
Didático
Dentre os sete que responderam afirmativamente,
seis indicaram de modo genérico o material (livro didático, computadores,
livros, TV, jornal e revista). Apenas um participante apontou que o livro
didático contem sugestões de atividades como os meios de comunicação (jornal e
revista), sem, no entanto, indicar título, autor e editora.
Do público investigado, apenas três professores
fizeram sugestões de trabalho com os meios de comunicação nas aulas de
história. Apontaram a possibilidade de utilizar como ferramenta para obter
informações e também para divulgar conhecimento em redes sociais e blogs. Foi
outra, porém, a resposta chamou nossa atenção. Um professor fez referência a
possibilidade de trabalhar com jornal local, dificultada pela falta de estimulo
dos alunos a leitura e, por isso, vislumbrou “maiores facilidades” para o a
trabalho com material audiovisual: “Já com outros meios de comunicação talvez
por ser audiovisual não apresentará dificuldades.”
Outras dificuldades foram listadas mesmo por aqueles
que não elencaram possibilidades de trabalho. Dificuldade de leitura, carência
de recursos apropriados e materiais didáticos, falta de recursos financeiros e
dificuldade em utilizar aparelhos e recursos tecnológicos da escola também
foram apontados.
Por fim, perguntamos sobre o papel exercido
pelos meios de comunicação na atualidade. Cinco professores colocaram como
tendo papel fundamental para o processo de ensino aprendizagem e um indicou
como fundamental para a formação do cidadão crítico. Os outros não fizeram
menção a educação no ambiente escolar, já que um apontou as mídias como
centrais na formação da personalidade e outro como essencial na vida social.
Também ressaltaram como fundamental para construir/desconstruir informações e
para analisáramos os fatos em determinado tempo/espaço.
Parece possível salientar que o conhecimento dos
pesquisadores sobre a utilização dos meios de comunicação nas aulas de escolas
públicas situadas no interior do Brasil ainda é limitado. A despeito da falta
de conhecimento produzido na academia ou das dificuldades para se trabalhar com
meios de comunicação na educação básica, tal como indicadas nas respostas
acima, devemos ressaltar a importância de utilização de diferentes mídias para
a formação do cidadão. Como asseverou Sylvia Magaldi (2001, p. 113)
A formação para a
cidadania não pode mais dispensar uma consistente educação para as mídias, em
especial a mídia televisual. Como formadora de comportamentos e opiniões, a TV
exerce um poder sem precedentes. Não cabe negar esse fato, nem abordá-lo
emocionalmente. É necessário, sim, educar para uma compreensão objetiva e
crítica da linguagem e das mensagens da TV, para a identificação de como ela
funciona enquanto mídia comercial, de como ela interage com as realidades
sócio-culturais e políticas no mundo todo, mas de modo especial no Brasil.
Com
a descrição dos dados levantados, objetivamos contribuir, ainda que pontualmente,
com as discussões acerca da utilização dos meios de comunicação nas aulas de
história. Almejamos, assim, despertar a curiosidade de pesquisadores para a
temática, ainda carente de trabalhos com dados e descrições de experiências didático-pedagógicas.
E, quem sabe, chamar a atenção para a necessidade de se produzir material
didático e organizar de cursos de formação docente.
Referências
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de primeiro grau. São Paulo: Annablume, 1999.
BELLONI, Maria Luiza. A televisão como
ferramenta pedagógica na formação de professores. Educação e Pesquisa, São Paulo,
v.29, n.2, p. 287-301, jul./dez. 2003. Disponível em:
Acesso em: 08
jun. 2015.
BUSETTO,
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215-231.
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Pinho, Sheila Zambello; Saglietti, José Roberto Corrêa. (Org.). Núcleos de Ensino.São Paulo: Editora
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____. Relações entre TV e poder político: dados
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Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2007, v. , p. 178-207.
____. A TV digital rima com direito social, mas
não na televisão brasileira: tema para o ensino de História do Brasil
contemporâneo. In: PINHO, Sheila Zambello de; SAGLIETTI, José Roberto Côrrea.
(Org.). Núcleos de Ensino.São Paulo:
Cultura Acadêmica Editora, 2008, v. , p. 812-826.
FARIA, Maria Alice & ZANCHETTA, Juvenal. Para ler e fazer o jornal na sala de aula.
São Paulo: Contexto, 2005.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Televisão & Educação. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4
ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MAGALDI, Sylvia. “A TV como objeto de estudo na Educação: idéias e
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NAPOLITANO, Marcos. Como usar a televisão na sala de aula.
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PÁDUA, Elisabete Matallo
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Acesso em 20 mar. 2014.
oi
ResponderExcluirvc acha que as novelas pode ser um meio didatico importante?
kelly cristina
Bom dia Kelly,
Excluirótima pergunta!Primeiro, penso que temos que adotar outra postura com relação aos produtos televisivos. Não dá mais para demonizarmos novelas e séries como "objetos menores" ou pouco dignos de pesquisa/ ensino. Muito menos para tentarmos entender estes complexos e multifacetados bens culturais apenas na chave ideologia/alienação. Assim, se contextualizada, a novela pode ser importante documento (sem contar o fato de ser outra linguagem) para trabalhar no ensino de história, sem, é claro, deixarmos de considerar produtor/produção, circulação e consumo. Algumas leituras podem ser fundamentais para pensarmos o tema. Dentre elas, sugiro: HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: a sociedade da novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005 e ORTIZ, Renato. Telenovela: história e produção. S.P.: Brasiliense, 1989.
Por fim, gostaria de dizer que penso ser importante discutirmos o uso de produtos audiovisuais no ensino.
Mais uma vez, grato pela questão!
Abraços e uma ótima semana!
Edvaldo C Sotana