LITERATURA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO
HISTÓRICO: O CASO D'AS JÓIAS DA COROA (1882), DE RAUL POMPÉIA
Evander Ruthieri da Silva
Entre a história e a
literatura vislumbram-se campos de conhecimento que compartilham incessantes
relações cognitivas com o mundo social, e que investem a experiência humana,
por intermédio de tessituras narrativas, com sentidos e significações, no afã de
representá-la e transformá-la. O interesse manifesto por muitos profissionais
do campo da história com relação às fontes literárias, ao exemplo de romances,
contos e folhetins, mas também aos seus leitores, editores e literatos, deixa
em evidência um reconhecimento da capacidade destas narrativas em construir, no
seu âmago sensível, afinidades e entrelaces com processos históricos
específicos. Assim, torna-se um lugar privilegiado de representação e
ressignificação de razões e sentimentos, dos imaginários e das sensibilidades
partilhados pelos atores históricos em seus esforços de interpretar o universo
de relações sociais de que fazem parte.
Esta aproximação de
pesquisadores e professores de história com os textos literários é decorrente e
sintomática de um movimento de expansão das abordagens e dos métodos utilizados
no ensino e na pesquisa, sobretudo a partir das discussões fomentadas, pelo
menos desde a década de 1970, em torno dos aspectos narrativos relacionados à
"operação historiográfica" (CERTEAU, 2002). Ademais, e em sintonia
com as contribuições à prática da docência almejadas por este texto, a
mobilização das fontes literárias enquanto recurso narrativo para a construção
do conhecimento histórico alinha-se a um momento de intensos debates em torno
da renovação dos aportes metodológicos pertinentes ao ensino de história, os
quais acarretaram em uma ampliação de temas, problemas e objetos de estudo
(FONSECA, 2003).
Para levar a cabo tais
questões, este texto visa deslindar as relações entre um movimento histórico -
a saber, a constituição de um imaginário anti-monarquista e o uso político da
literatura pelos defensores do republicanismo nas décadas de 1870 e 1880 no
Brasil - e uma fonte literária: o romance As Jóias da Coroa, de Raul Pompéia,
publicado originalmente como um folhetim no periódico carioca Gazeta de
Notícias entre março e maio de 1882. Baseado em uma investigação policial que
tomou conta da imprensa no início daquele ano, a saber, o roubo das joias da
imperatriz Teresa Cristina, a análise histórica do romance intenciona
demonstrar a proficuidade do escrutínio da literatura para a construção do
conhecimento histórico na sala de aula.
Se há um interesse
ativo pela literatura enquanto objeto cultural e forma de acesso "ao modo
pelo qual as pessoas pensavam o mundo, a si próprias, quais os valores que
guiavam seus passos, quais os preconceitos, medos e sonhos" (PESAVENTO,
2012, p.82), há que se atentar que as relações entre narrativas literárias e
históricas foram, em longa duração, demarcadas por tensões e aproximações. O
historiador Jacques Revel enfatiza que os embates, diálogos e querelas entre
operações de conhecimento histórico e formas narrativas são antigas, pois
remetem a uma hierarquia de gêneros literários sugerida pela tradição aristotélica.
Este contrato retórico se desfaz entre a segunda metade do século XVIII e as
primeiras décadas do século XIX, instante em que espera-se que o historiador
restitua o passado, não em vias de localizar seus exemplos morais, mas que
fosse capaz de liberar sua significação de conjuntos. Este regime de
historicidade concebe o passado como desconexo do presente, distante e
fragmentário, e, apesar de certa solidariedade entre a literatura e a história,
sobretudo pela via do romance histórico oitocentista, Revel conclui que não se
trata de uma relação prolongada no interior do contrato retórico (REVEL, 2010).
Ainda assim, cada qual
ao seu modo, e em muitas vezes de modo complementar, muitos literatos e
historiadores apresentavam interesses comuns ao longo do século XIX, dentre os
quais, o esforço em estabelecer narrativas que fornecessem coesão e
historicidade às nações modernas. Particularmente entre os românticos, homens
de letras e da história compartilhavam o "interesse pelo humano",
isto é, "o homem, alçado à condição de objeto de conhecimento"
(CAMILOTTI; NAXARA, 2009, p. 20). Ademais, como sintetizam Virginia Camilotti e
Márcia Naxara, história e literatura constituíram-se enquanto campos
disciplinares de modo simultâneo, no limiar da modernidade, a partir das cisões
com formas de saberes anteriormente estabelecidos, e em resposta às ambições de
conhecimento do mundo, as quais atribuíram atenção redobrada à historicidade de
acontecimentos humanos ou naturais (LEPENIES, 1996).
O debate em torno das
relações entre literatura, ficção e história, bem como do aspecto cognitivo das
narrativas, sofreu uma inflexão entre as décadas de 1960 e 1970 diante das
contribuições e das querelas provocadas pelo "linguistic turn",
vertente teórica que enfatizava a linguagem enquanto sistema produtor de
sentidos que definem o real. Autores como o classicista francês Paul Veyne, o
norte-americano Hayden White e o inglês Lawrence Stone trouxeram à baila a
questão da narrativa, ao apontarem a presença ou predominância de elementos
literários e/ou ficcionais na escrita da história.
Entre os intérpretes
críticos do linguistic turn, ao exemplo de Michel de Certeau, Paul Ricoeur e
Roger Chartier, a ênfase recaiu na especificidade das narrativas históricas, no
lugar social da instituição histórica, nos métodos que orientam o trabalho dos
historiadores e sua dependência com relação às fontes. Se estas querelas
conduziram a uma compreensão da presença de elementos narrativos no ofício do
historiador, no ínterim, diversos pesquisadores, sobretudo a partir da década
de 1980, desafiaram-se a pensar a dimensão social e cultural, enfim, histórica,
dos discursos literários, de seus produtores e de seus leitores. Ênfase tem
sido concedida à literatura produzida durante o século XIX, pois se tratou de
um momento de consolidação e expansão do mercado editorial brasileiro, bem como
de complexificação das vias de difusão de textos literários.
Dentre os suportes que
ganham significância no Oitocentos, estava o folhetim. Inspirado no modelo
francês de serialização de romances em jornais, galgou popularidade entre o
público brasileiro, pois atendia a hábitos adquiridos de leitura ou audição da
ficção (MEYER, 1996, p.33-34). Formato difundido na imprensa brasileira da
segunda metade do século, localizado ao pé da página dos impressos, o folhetim
adquiria relevância em um movimento significativo no período, a saber, os
múltiplos intentos de letrados para fazer uso da cultura escrita no fito de
garantir o protagonismo de determinados grupos sociais que se digladiam nas
tramas da política.
O folhetim As Joias da Coroa foi gestado no período
em que Raul Pompéia muda-se para São Paulo, cidade no qual ingressa no curso de
Direito na Faculdade do Largo São Francisco. Por meio de suas atividades na
imprensa periódica, Pompéia articula-se politicamente junto ao movimento abolicionista
e republicano, sobretudo por sua colaboração no jornal A Comédia, ainda em
1881. A militância política acarreta consequências em sua trajetória acadêmica,
de modo que Pompéia foi reprovado pela banca examinadora no terceiro ano da
Academia de Direito (ARANTES, 2002).
Escrito ao modelo de
um roman à clef, no qual nomes de personagens são intencionalmente trocados,
mas não ao ponto de tornarem-se indistinguíveis aos seus leitores
contemporâneos, As Jóias da Coroa narra as desventuras de Manuel de Paiva,
fidalgo da corte que planeja e executa o roubo das jóias do Duque de
Bragantina, ficcionalização do imperador Dom Pedro II. Além da Duquesa de
Bragantina, representada como uma mulher gentil e caridosa, à corte integra o
filho do casal, o "príncipe dos cortiços" Marques d'Etu, em
referência ao Conde d'Eu. Na parte final do romance, Paiva é preso por ordens
do Duque, mas é logo solto, por ter conhecimento das ações degradadas do nobre,
dentre as quais a exploração sexual de jovens moçoilas. A trama encerra-se com
a Duquesa de Bragantina impedindo o marido de abusar sexualmente de uma jovem
que, sem seu conhecimento, tratava-se de uma filha ilegítima do aristocrata.
O caso era inspirado
em um fato extraordinário: o desaparecimento de várias joias da imperatriz
Tereza Cristina em torno de 18 de março de 1882, no Paço de São Cristóvão. O
roubo atraiu atenção da imprensa devido ao fato de que os culpados pelo crime
terem sido soltos impunemente. Por extensão, a sátira crítica de Raul Pompeia
em seu folhetim evidencia um momento de transformações políticas importantes no
Brasil das décadas de 1870 e 1880, quais sejam, o crescimento do Partido
Republicano e do abolicionismo, a demissão do Gabinete Conservador e a subida
dos liberais depois de afastados do poder por pelo menos dez anos, e a
desestabilização da imagem pública do imperador. A inspiração cientificista no
romance, que observa a elite brasileira a partir de uma órbita da
degenerescência moral, igualmente demonstra a recepção e difusão de novas vias
de interpretação social entre a intelectualidade republicana (SCHWARCZ, 1998,
p.410).
Para o ensino de
história, a literatura pode ser utilizada como documento histórico e fonte para
a construção do conhecimento. Torna-se essencial, portanto, historicizar o
texto literário, localizá-lo em seu contexto e conectá-lo com processos
históricos específicos, para assim ter uma ideia clara das intencionalidades
promovidas pelos literatos. A forma narrativa destes textos literários,
edulcorados com descrições vívidas de personagens e lugares, torna-a uma
ferramenta instigante para a docência em história, baseada na ampliação dos
objetos e dos métodos aos quais os profissionais da área podem dispor em suas
práticas pedagógicas.
A incorporação da
literatura enquanto fonte na pesquisa e no ensino em história adere, destarte,
a uma "opção metodológica que amplia o olhar do historiador, o campo de
estudo, tornando o processo de transmissão e produção de conhecimentos
interdisciplinar, dinâmico e flexível" (FONSECA, 2003, p.163). Ainda
assim, torna-se importantíssimo preservar a especificidade do discurso
literário, pois se trata de uma produção ficcional, repleta de expectativas
não-realizadas, e ainda assim profundamente entrelaçada ao tecido social e
cultural de um período histórico. O uso da literatura em sala de aula ainda
pode ser pensado a partir de sua intertextualidade, isto é, do modo como a
ficção dialoga, reafirma ou confronta outras produções escritas e visuais do
mesmo período. As Jóias da Coroa, neste caso, poderia ser utilizado em diálogo
com a imprensa ilustrada engajada com a campanha republicana no Brasil,
sobretudo por intermédio das caricaturas políticas que visavam minar o governo
imperial, ao exemplo das gravuras de Angelo Agostini, Luigi Borgomainerio e
Rafael Bordalo Pinheiro (Cf. SCHWARCZ, 1998, p.417-421).
Além disso, o caso d'As Joias da Coroa pode ser mobilizado
enquanto recurso para explorar, junto aos alunos, as particularidades de um
gênero literário típico do século XIX: o folhetim. A digitalização da Gazeta de
Notícias pela Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (http://bndigital.bn.br/acervo-digital/gazeta-noticias/103730) possibilita acesso ao periódico de modo
integral, o que permitiria uma via de acesso digital aos rastros das
experiências literárias no Oitocentos brasileiro.
Ao privilegiar a
intertextualidade e a interdisciplinaridade, o uso da literatura na prática de
docência permite privilegiar a "natureza multiperspectivada" do
passado histórico, "ou seja, contempla as múltiplas temporalidades
pautadas nas experiências históricas desses sujeitos" (SOBANSKI, 2010, p.
10). Ao evocar sonhos imaginários e defesas letradas, romances como As Jóias da
Coroa possibilitam uma construção de conhecimento histórico que privilegie os
múltiplos posicionamentos dos sujeitos diante de processos políticos, e as
formas pelas quais estes atores históricos interpretam e reelaboram as relações
sociais que integram.
Referências
ARANTES, Rubens. A Trajetória de Raul Pompéia: um estudo bibliográfico. In: Revista Claretiano, n.2, jan-dez. 2002, pp.44-57.
Referências
ARANTES, Rubens. A Trajetória de Raul Pompéia: um estudo bibliográfico. In: Revista Claretiano, n.2, jan-dez. 2002, pp.44-57.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2002.
FONSECA, Selva
Guimarães. Didática e prática de ensino
de história: experiências, reflexões e aprendizados. Campinas: Papirus,
2003.
PESAVENTO, Sandra. História e história cultural. Belo
Horizonte: Autêntica, 2012, p.82.
REVEL, Jacques.
Recursos narrativos e conhecimento histórico. In:
REVEL, Jacques. História e historiografia: exercícios
críticos. Curitiba: Ed.UFPR, 2010.
CAMILOTTI, Virginia;
NAXARA, Márcia R. C. História e literatura: fontes literárias na produção
historiográfica recente no Brasil. In: História: Questões & Debates, n. 50, jan-jun. 2009, pp.15-49.
LEPENIES, Wolf. As
três culturas (1985). São Paulo: Edusp, 1996.
MEYER, Marlise. Folhetim: uma história. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.
SCHWARCZ, Lilia
Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro
II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
SOBANSKI, Adriane (et.al). Ensinar e Aprender História: Histórias em quadrinhos e canções.
Curitiba: BASE Editorial, 2010.
Olá Evander,
ResponderExcluirDe fato, a literatura constitui uma importante fonte histórica que os historiadores podem lançar mão. Para além das possíveis análises políticas, sociais e culturais que este tipo de fonte pode permitir, pergunto sobre ao estatuto da literatura tanto como efeito quanto como causadora de produção de subjetividades e sensibilidades históricas. Ou seja, como você percebe a literatura no interior da produção de subjetividades em uma determinada época histórica?
Abraço,
Carmem Kummer Liblik
Olá Carmen!
ExcluirMuito obrigado pelo seu comentário.
Creio que os textos literários configuram-se indubitavelmente como lugares privilegiados de produção, expressão e difusão de subjetividades e sensibilidades. Penso, sobretudo, no romance oitocentista, cuja própria forma literária distingue-se devido a uma constante ênfase no campo de ação e atuação do indivíduo, nos processos de subjetivação e de constituição de sentimentos que afetam os sujeitos históricos, em particular a partir das relações com o mundo social do qual fazem parte. Ou, ainda, do modo como a tessitura literária torna-se um espaço de autorepresentação e autosubjetivação, por meio da qual homens e mulheres de letras fazem uso político da escrita para reafirmar, flexionar ou negociar protagonismos sociais, posicionamentos de sujeito e possibilidades de agência.
Abraços,
Evander Ruthieri
Parabéns pelo trabalho, essa relação que pode ser construída entre a história e a literatura me encanta. Gostaria que me orientasse em como posso usar os livros da literatura nacional em sala, fazendo com que os alunos entendam o contexto em que a história se passa.
ResponderExcluirObrigada, Leticia Mello dos Santos
Olá Letícia!
ExcluirMuito obrigado por seu comentário.
Existem várias possibilidades de trabalhar com a literatura em sala de aula. Você pode, por exemplo, fazer uso da intertextualidade e dialogar textos literários com outros materiais didáticos, ou até mesmo incentivar seus alunos a pesquisar sobre a trajetória dos escritores e escritoras, para assim ter uma compreensão histórica mais aprimorada a respeito do processo de criação da literatura. Outra possibilidade, ainda mais interessante, é partir do texto literário para circunscrever o contexto histórico em que a trama foi gestada – como, no caso que visei demonstrar, o modo como a literatura de Raul Pompeia evidenciava o ideário republicano na última década do Brasil imperial. Outros textos literários podem permitir estabelecer recortes temáticos mais específicos, concernentes a questões de gênero ou classe social, por exemplo. Textos como “O Tronco do Ipê”, de José de Alencar, podem ser interessantes para pensar uma visão literária sobre o trabalho servil no século XIX, ou os contos de Machado de Assis para lidar com as transformações sociais na passagem entre o Império e a Primeira República. O importante, creio eu, é sempre estabelecer com seus alunos a especificidade da literatura enquanto um texto ficcional, mas construído a partir das experiências de homens e mulheres reais, que fazem uso da escrita para projetar suas incertezas, anseios e sentimentos, ou ainda para transformar a sociedade da qual fazem parte. E, naturalmente, sempre estar atenta às capacidades e expectativas de leitura e interpretação dos alunos.
Abraços,
Evander Ruthieri.
O Historiador utiliza a literatura como fonte, ele investiga algo que está contido naquela obra, ou seja, o historiador é um detetive. Cada um tem o papel fundamental na sociedade, a literatura vai levar o individuo a viajar em sua imaginação, já a história tem o compromisso com a verdade. Gostaria de saber sua opinião sobre outros profissionais, como jornalistas, que se propõem a escrever livros de história? (Viviane Regina Árcega de Souza)
ResponderExcluirOlá Viviane!
ExcluirObrigado por seu comentário.
Sim, os historiadores possuem um compromisso com um regime de verossimilhança; fazem uso de métodos de pesquisa, estão fundamentados em fontes históricas, para construir sua prática e escrita. Acredito que outros profissionais, sobretudo jornalistas e literatos, desempenham um papel na constituição de uma cultura histórica, mas em muitos casos não dispõem de alguns cuidados (teórico-metodológicos) que competem aos historiadores.
Evander Ruthieri.
A comunicação é bem interessante, porque se refere ao aproveitamento literário de um fato histórico de grande impacto, mais especificamente, da caricatura de um episódio (engraçado, mas politicamente terrível) que envolvia o próprio D.Pedro II.
ResponderExcluirAqui, não faltaram rumores de traição, ciúmes, mentiras, amantes de longa data etc.
Mas a minha questão vai em outro sentido: para você, seria igualmente interesante traçar um paralelo entre Raul Pompéia e o esforço de D.Pedro II em constituir uma literatura nacional?
Penso, por exemplo, nas obras de caráter nacionalista em que a figura do indígena surge como herói.
Ricardo Hiroyuki Shibata
Olá, Ricardo!
ExcluirMuito obrigado por seu comentário.
De fato, a obra de Pompeia revela não apenas a mobilização de um episódio histórico a partir da literatura, mas também o lugar da maledicência, do escárnio e da sátira nas tramas da política Brasil na década de 1880.
Com relação a sua questão: penso que Raul Pompeia, assim como alguns intelectuais da chamada geração de 1870, estavam interessados em repensar alguns dos esforços de constituição de uma literatura nacional. Penso, em específico, na sua ênfase no naturalismo/cientificismo enquanto via de interpretação social, buscando afastar-se de uma certa sensibilidade romântica que havia predominando, por exemplo, nas obras de Alecar e outros indianistas. Em mente, vem-me apenas a polêmica de Joaquim Nabuco e José de Alencar, de 1875, um claro conflito intergeracional mas que também dizia respeito a distintos paradigmas literários. Se observado deste ângulo, o peso crítico de Pompeia contra o Império e as suas instituições (isto é, tal qual o faz em O Ateneu) pode ser dimensionado diante destas questões.
Abraços,
Evander Ruthieri.