LITERATURA DE CORDEL NA SALA DE AULA: NOVOS
CAMINHOS PARA A HISTÓRIA.
Jessica Kaline Vieira Santos
Introdução
O ensino brasileiro de
forma geral ainda é tradicionalista, e no ensino de história não poderia ser
diferente, esse tradicionalismo ainda presente no uso do quadro, do livro
didático e do giz é considerado por Nascimento como sendo "a santíssima
trindade" da prática tradicional que compõem a realidade do ensino do
país. Entretanto muitos são os recursos áudio e visuais e outras linguagens que
podem ser utilizados para tornar as aulas dinâmicas e didáticas, e esse artigo
tem por finalidade demonstrar o uso de recursos diferenciados que podem ser
utilizados nas aulas de história, a exemplo desses recursos estão o
jornal impresso, charges, jogos, fotografia, música, dentre outros. Hoje a
exemplo dos quadrinhos, tirinhas, charges, leitura visual e da música que, são
instrumentos de colaboração usados fartamente em sala de aula, a Literatura de
Cordel vem a facilitar o trabalho do professor. (Nogueira, 2009) Contudo como
foco principal da nossa análise está à literatura de cordel como recurso
auxiliador na didática de ensino.
Surgimento da Literatura de Cordel
Algumas teses situam o
surgimento da Literatura de cordel ainda na Europa, pois lá já possuía esse
nome, então a literatura de Cordel produzida no Brasil é uma apropriação dos
traços trazidos na vinda portuguesa para as terras brasileiras. A literatura de
cordel, narrativa poética construída em versos, surgiu na Europa. Foi trazida
para o Brasil pelos portugueses, no século XVII. (Nascimento p.2, 2005)
A produção de folhetos
de Cordel no Brasil se inicia a partir do fim do século XIX e inicio do século
XX "com Leandro Gomes de Barros, Francisco das Chagas Batista e João
Martins de Athaíde, autores que começaram a dominar o mercado de folhetos."
(Grillo p.367 2011). Contudo, muito antes da produção de cordel impresso em
forma de folhetos a poesia de cordel era transmitida de forma memorizada e
cantada pelos poetas cantadores que faziam desse tipo de literatura um dos
maiores meios de comunicação e informação que circulava no Nordeste Brasileiro.
Marcada por elementos
da oralidade e por uma escrita leve e humorística na maioria dos casos, o que
facilitou a sua distribuição por diversas partes do Nordeste e do país, por
conter essas características a literatura de cordel é ótima ferramenta para
utilização na sala de aula.
A Literatura de Cordel e as Aulas de
História
No campo da história
podemos destacar cordéis sobre os mais variados assuntos e elencaremos aqui
algumas literaturas de cordel que podem ser utilizadas para problematizar
determinados assuntos nas aulas de história.
Dos mais variados
temas, estão à questão agrária no Brasil, revoltas como a do contestado,
movimentos como o cangaço, primeira e segunda guerras mundiais, dentre
outros. Exemplificaremos aqui uma aula que está na grade curricular dos
alunos do 9º ano do ensino fundamental, com o assunto Era Vargas.
Exemplo: O governo do
presidente Getulio Vargas e os seus desdobramentos tanto no seu primeiro
mandato quanto no segundo mandato é um dos assuntos amplamente abordados nos
folhetos de cordel, Getulio assumiu o poder em 1930 após liderar o movimento
revolucionário do mesmo ano. Promulgou a Constituição de 1934 e realizou
mudanças consideráveis no que diz respeito aos direitos trabalhistas, criou o
Ministério do Trabalho e assegurou direitos básicos aos trabalhadores, como o
de férias anuais e descansos semanais remunerados, assim como o salário mínimo,
jornada diária de oito horas, direitos das gestantes e a criação da carteira de
trabalho. Além disso, realizou investimentos consideráveis como é o caso da
Siderúrgica Nacional (1940), da Empresa Vale do Rio Doce (1942), da
Hidrelétrica do Vale do São Francisco(1945) além da criação do IBGE em 1938.
Também podemos observar em seu governo mudanças no que diz respeito a imprensa
e a radiodifusão da época. O seu governo culmina com a sua morte em 1954 onde o
presidente escreve uma carta antes de suicidar-se. Apesar de possuir aspectos
ditatoriais favoreceu amplamente os trabalhadores e esses aspectos, fizeram com
que Getúlio fosse bastante aceito nas camadas mais populares da sociedade.
Tomaremos aqui alguns trechos de Literaturas de Cordel que exemplificam um
pouco sobre a trajetória política de Getúlio. O primeiro folheto aqui
exemplificado de autoria de Manoel Pereira Sobrinho que tem como Título:
Getúlio fala ao seu povo. (Fragmento retirado do cordel folheto Getúlio fala ao
seu povo. Autor: Manoel Pereira Sobrinho. Pagina de nº2 e 4 respectivamente.)
O povo todo pedindo/Do norte ao sul do
paiz/Dizendo que só comigo/O povo será feliz/E se com o meu sacrifício/Tira-lo
do precipício/Pronto estou como juiz./(...)/Vou governar com justiça/Com lei e
com harmonia/Dando liberdade ao povo/Com ordem e democracia/Protegendo os
oprimidos/Amparando aos desvalidos/E apertando a burguesia.
Nesse caso, por exemplo,
esse fragmento pode ser confrontado com o livro didático e com outros folhetos
de cordel de outros autores que abordam a Era Vargas, para que os alunos possam
problematizar com relação às diferentes versões atribuídas ao presidente, a
partir dos diferentes discursos dos cordelistas.
Considerações Finais
Enfim, buscamos de
forma simples, apresentar nesse texto um exemplo de tornar as aulas de história
mais atrativas, com elementos novos, que propiciem aos alunos, novas
perspectivas do assunto estudado, que proporcionem o questionamento e a
problematização e o debate em sala de aula. E partir de então, como produto
dessa análise os alunos podem produzir, por exemplo, os seus próprios folhetos.
Referências
Folhetos de cordel:
SOBRINHO, Manoel
Pereira. Getúlio fala ao seu povo.
Campina Grande, 1950. Disponível em:
Bibliografias:
ANPUH- XXIII Simpósio Nacional de História- Londrina, 2005. NASCIMENTO, Jairo Carvalho do. A literatura de cordel no ensino de História: Reflexões teóricas e orientações metodológicas. Londrina, 2005.
ANPUH- XXIII Simpósio Nacional de História- Londrina, 2005. NASCIMENTO, Jairo Carvalho do. A literatura de cordel no ensino de História: Reflexões teóricas e orientações metodológicas. Londrina, 2005.
BRAICK, Patrícia
Ramos. Estudar história: das origens do
homem à era digital. 1. Ed.- São Paulo: Moderna, 2011.
GRILLO, Maria Ângela
de Faria. O Folheto de cordel e a sala de aula.__In: Cultura da Mídia, História Cultura e Educação no Campo. Editora da
UFPB. João Pessoa, 2011.
NETO, José Batista de
Lira. A didática dos cordéis para o ensino de história. In: IV Enid- UEPB, 2013.
NOGUEIRA, Ângela
Maciel. Origem e característica da
literatura de Cordel. Ariquemes- Rondônia, 2009.
Olá Jéssica, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirPermita-me sugerir que você saia um pouco dessa ideia das "origens" do cordel,principalmente como vindo da Europa. Há o estudo de Marcia Abreu "Histórias de cordeis e folhetos" em que ela desmistifica essa ideia, destacando as diferenças entre o cordel português e o cordel brasileiro.
Gostaria de saber qual é especificamente a sua pesquisa, se é sobre o cordel na sala de aula, uma análise de algum tema retratado nos folhetos, etc.
Tenho alguns artigos sobre cordel, inclusive no ensino de História, se for lhe ajudar dê uma olhada:
https://fibrapara.academia.edu/GeraldoNeto/
Boa sorte na pesquisa.
Cordialmente,
Geraldo Neto (UFPA/FIBRA/SEMEC-Belém)
Olá Jéssica,
ResponderExcluirVocê tem conhecimento de algum sitio virtual onde professores de história podem encontrar esse material, texto em cordel?