Danillo Di Giorgio

O DISTANCIAMENTO ENTRE A EDUCAÇÃO INTEGRAL E ENSINO TÉCNICO NO MODELO ADOTADO PELOS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO

Danyllo Di Giorgio Martins da Mota



Introdução
       
Este texto é o resultado parcial do trabalho de pesquisa desenvolvido no Instituto Federal de Goiás, Campus Aparecida, pelo grupo de bolsistas do PIBID da Licenciatura em História do IFG, Campus Goiânia. O objetivo inicial do projeto era mapear as avaliações dos alunos sobre o modelo de ensino oferecido pela instituição como forma de construir uma reflexão sobre a efetivação das propostas pedagógicas dos cursos. Ao longo do trabalho de analise de documentos sobre o Ensino Técnico Integrado ao Médio em Tempo Integral (legislação federal e regulamentações específicas da Instituição) e das intervenções (entrevistas com alunos e aplicação de questionários e formulários) identificamos a disparidade entre as propostas de formação e a efetivação deste processo que busca associar educação integral e formação para o trabalho.

Ensino em tempo integral e Educação Integral

Quando analisamos o modelo de ensino implementado na Rede Federal de Ensino Tecnológico a partir de 2008, quando os antigos CEFET's foram transformados nos atuais Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, podemos perceber o quanto a relação entre Educação e Mercado de Trabalho é estreitada. O processo de expansão dessa rede federal teve como principal objetivo a ampliação do número de alunos formados no nível técnico a partir de uma avaliação do MEC (MOURA, 2007) de que havia uma quantidade excessiva de formados em cursos superiores, enquanto a maior necessidade do mercado era de profissionais com formação técnica de nível médio.

Somada a essa necessidade do mercado identificada pelos especialistas do MEC temos a implantação do modelo de Ensino em Tempo Integral. Este modelo de ensino que tornou-se na última década a bandeira de diversas correntes políticas sendo apontada como solução para os graves problemas da Educação é identificado nos documentos do MEC como uma forma de ampliar o tempo do aluno em sala de aula e, assim, a quantidade de conteúdos ministrados e, ao mesmo tempo, afastar os alunos com maiores riscos sociais das ruas durante em um período mais extenso do dia (MOURA, 2007).

O elemento principal que aproxima essas duas idéias é sua destinação para a população mais pobre. Temos assim a primeira das contradições presentes na formulação deste modelo de ensino, pois, ainda que apontada como uma forma de aumentar as possibilidades de ascensão social baseada na ideia de inclusão, o modelo traz em si um aspecto de exclusão. Ele distorce a noção de educação igualitária ao definir uma função específica - o trabalho técnico - para os grupos da sociedade considerados mais vulneráveis. Isso, contraditoriamente, pode limitar suas possibilidades de ascensão social.

Outra ideia que encontra-se distorcida nas definições deste modelo de ensino é a de Educação Integral. Helen Ferreira e Dilys Rees (2015), discutindo a implantação do ensino em tempo integral na Rede Municipal de Ensino de Goiânia, apontam as confusões entre este conceito e a noção de Ensino em tempo integral também perceptível nos documentos referentes ao modelo oferecido pelos Institutos Federais.

A ideia de Educação integral está ligada á formação ampla do educando, visando as várias áreas da vida (cognitiva, psicológica, emocional, física, corporal etc.). Essa ideia também aparece nos PPCs dos cursos técnicos em tempo integral do IFG Aparecida como sinônimo de Educação em Tempo Integral. Contudo, é possível perceber a partir da análise das matrizes curriculares dos cursos técnicos oferecidos no campus (Técnicos em Química, Agroindústria e Edificações) que a possibilidade de uma Educação Integral encontra-se bastante distante dos alunos. A excessiva carga horária (os alunos tem aulas de segunda à quinta feira das 7:30 às 17:10 horas com intervalo de almoço entre 12:10 e 14:05 horas, e na sexta tem aulas das 7:30 às 12:10 horas), o grande número de disciplinas técnicas que em alguns casos se sobrepõem (trabalham conteúdos muito parecidos), a carga reduzida de aulas nas áreas propedêuticas (contraditoriamente há uma grande expectativa em torno da aprovação em Vestibulares e por boas avaliações no Enem), a falta de instalações adequadas para a permanência dos alunos na escola durante o dia inteiro (não há restaurante e as instalações do refeitório não foram concluídas, não há quadra de esportes, nem espaço para descanso etc.).

Com todos estes aspectos identificados no Instituto Federal de Goiás, Campus Aparecida de Goiânia, mas que podem ser encontrados em muitos dos campi implantados no processo de expansão da Rede Federal de Ensino Tecnológico, podemos afirmar que a atual estrutura e organização do modelo de ensino técnico em tempo integral não é capaz de garantir uma Educação Integral para os alunos. A formação é extremamente dificultada pelos obstáculos encontrados na estrutura inadequada e na limitação dos debates desenvolvidos ao longo do Ensino Médio que afunila em excesso a formação do aluno para áreas do conhecimento cada vez mais específicas dificultando a percepção global do mundo e as relações entre os vários conhecimentos pelos alunos.

Considerações provisórias

O que podemos afirmar como conclusão provisória deste trabalho de pesquisa é que a própria definição de ensino técnico já estabelece uma limitação para a noção Educação Integral. A despeito de correntes teóricas que buscam conjugar essas duas idéias apontando a formação para o trabalho como caminho eficaz de formação do aluno também para outras áreas da vida, a análise da prática do processo de ensino mostra que o ensino técnico no formato atual presente nos Institutos Federais é um limitador para a formação integral.

Essa limitação é fruto da ligação demasiadamente próxima das instituições de ensino e dos órgãos reguladores com os entes ligados ao Mercado. Como indicado por Antônio Sérgio Gonçalves (2006: 05), a Educação integral seria uma forma de se contrapor à "lógica perversa do mercado" que impõe a lei do poder econômico para as melhores ofertas de educação. Contudo, no ensino técnico, essa lógica do mercado é que governa as ofertas de ensino em tempo integral ou mesmo as definições de educação integral, já que estas estão voltadas para o atendimento das necessidades do próprio Mercado.

Referências

FERREIRA, Helen Betane; REES, Dilys Karen. Educação Integral e Escola de Tempo Integral em Goiânia. Educação e Realidade. Porto Alegre, volume 40, número 1, p. 229 - 251, jan/mar. 2015. Disponível em http://www.ufrgs.br/edu_realidade. Acessado em 04 de agosto de 2015.
GONÇALVES, Antônio Sérgio. Reflexões sobre Educação Integral e Escola de Tempo Integral. Cadernos Cenpec. n.º 2 - Educação Integral - 2º semestre 2006. Disponível em
 www.nexusassessoria.com.br. Acessado em 01 de setembro de 2015.
GUIMARÃES, Gilda et al. Projeto Pedagógico do Curso Técnico em Agroindústria Integrado ao Ensino Médio em Tempo Integral. Aparecida de Goiânia: IFG, 2014. Disponível em www.ifg.edu.br. Acessado em 01 de junho de 2015.
GUIMARÃES, Gilda et al. Projeto Pedagógico do Curso Técnico em Edificações Integrado ao Ensino Médio. Aparecida de Goiânia: IFG, 2014. Disponível em www.ifg.edu.br. Acessado em 01 de junho de 2015.
GUIMARÃES, Gilda et al. Projeto Pedagógico do Curso Técnico em Química Integrado ao Ensino Médio. Aparecida de Goiânia: IFG, 2014. Disponível em www.ifg.edu.br. Acessado em 01 de junho de 2015.
MEC - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Educação Profissional: Legislação Básica. Disponível em: www.mec.gov.br. Acessado em 27 de maio de 2015.
MOURA, Dante Henrique (Coord.). Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio: documento base. Brasília: MEC, 2007.


4 comentários:

  1. Olá! Acredito que as escolas de Tempo Integral e aquelas que tem apenas o Projeto implantado, ainda precisariam de um tempo maior para se adequar quer seja na estrutura física como no referencial curricular.Concordam? Sara Araujo

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  2. O que busquei apontar no texto é que o ensino técnico é, em sua concepção, um entrave para uma educação que se pretenda integral. Este modelo limita as possibilidades de uma educação integral por se voltar de forma exacerbada para áreas específicas do conhecimento em detrimento de outras. Isso independe se o projeto está em implantação ou já consolidado.

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  3. Sou professora no IFMT e ministro aulas para cursos de ensino médio integrado com técnico nas áreas de meio ambiente e química, identifico claramente o direcionamento e favorecimento das disciplinas consideradas essenciais para a área técnica, enquanto as demais como as humanas e linguagens deixadas de lado, como um complemento incômodo ao curso. Como você disse, a implantação de cursos integrais choca como a realidade, pois efetivamente os alunos não possuem a estrutura necessária e a ideia de curso integral é de um monte de disciplinas e carga horária pesada, sendo que a busca pelo ensino integral é para a formação humana, o que esta sendo deixado de lado, sem pudor algum.
    Marciane de Souza

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  4. Isso mesmo, Marciane. É impossível pensar em formação integral conheci modelo de ensino que temos dos institutos.

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